sexta-feira, 1 de abril de 2011

Terra de Ninguém


            “Terra de Ninguém” aquele espaço vazio, entre nós, des-existenciando-nos. Queria ver-te milhas e milhas longe de mim, numa ilha de esquecimento, abandonado. Navegante das ondas dos meus sentimentos. Ressentimento gosta do vento: vai longe desde tempos imemoriais. Ao passar por mim passa por dentro, sempre. Não sabes fazer a volta, contornar-me. Semana Santa não condiz bem ao nome: é cada demônio que me aparece. Teu olho de boi paira em mim e arde. Ardor que apenas a chama que queima, ainda mais fundo, aplaca. Não sou poeta que valha tua existência, nem tenho em ti a esperança da consciência do Amor. Você é puro demais para sobreviver em mim. Posso morrer de uma água que em ti é vida. Posso morrer de sede do que em ti não se sacia, simplesmente porque não sei estender as mãos à miragem de um Oásis.

            Sou autodepreciativa, "deprimível", ou tudo junto, complementando-me em pré-requisitos. Quem é que me aguenta? É coisa do homem fazer do jeito mais fácil. Beber no gargalo às escondidas. Fazer de conta que não tem os defeitos mais do que sabidos. Eu também sou assim. Do Amor sinto falta de um alguém sincero, transparente, inexistente. Aos outros renego. Não vejo, sou cega em ti. Se desconheces tua capacidade de amar, devias saber o quanto podes provocar amor. Revolta Marte, Deus da Guerra: gente que invade nossas terras e toma de assalto aquilo que daríamos de mãos beijadas. O olhar amplo. Tornaste-te dono das terras de mim sem sequer reclamá-las. Dono dos hectares de silêncio, das palavras entrecortadas, caminhadas solitárias, dono de tudo, dono de nada. Morro quando amo ao avesso.

            Começo a existir a partir de Terça-feira, a aparecer depois de Quarta, ser mesmo só no Sábado, mas é tão óbvio que morro, na vontade de ser inteira, toda quebrada. Preciso recolher as tralhas de mim. Ser etérea não me nutre, falta plasma ou algo que assuste. O medo enche-me da mágoa. Água que não transborda. Falta-me o que sustenta a vida vir à tona. Um Continente de emoções adormecido, vulcões mortos que explodem em apocalipses redivivos. Amo-te partida ao meio, tectônica. Não sei ser eu entre lábios que segredam silêncios ou o que não desvendo: palavras fantasiadas de palavras sem nexo, sem sexo. Dizes ao avesso sobre teus problemáticos desejos em emblemáticos gestos. Choras em meus braços teus amores perdidos. E eu que pensei ter sido cruel ao dizer-te: “palavras doces demais os sentimentos amargam”. Tem dia que nem dá vontade de existir. Dia assim pago para que me aguentem.

            Depois foges de mim e eu fico aflita: Minha Nossa Senhora, proteja meu amor, seja onde for, traga-o de volta, Minha Nossa Senhora, louvo-te perdão, por amar em excesso, por zelo, por nexo, peço o regresso, Minha Nossa Senhora. Li em algum lugar: “É ridículo rezar por amor”. Eu sou muitos eus. Internet sem sinal. Pensei em Maysa: “Meu modem caiu e me fez ficar assim...”. Conexões lentas, tu ao lado boiando na noite vaga, no espaço imagético. Sinto súbita saudade da terra de onde nunca parti. Saudade esquecida do Brasil. O alimento da minha alma não está na saudade. A comida dos meus olhos não é o que vejo em ti. Estou solta no vazio. Lambo tua aura. Dar-te-ei um dia um longo abraço. Desejos tão pequenos. Etéreos sentidos, in-fluências. Sensação in-esquecível, des-confiança de que aqueles sentimentos jamais seriam traduzíveis em palavras. Melhor sentí-los (ou descrever o sentí-los). Lamber o branco do globo ocular: o toque mais sutil. Sonho que deitas em meus braços como um potro novo. Penso no que teríamos sido liberta desse corpo. Beijo em sonhos, longamente, tua boca, sugo tua língua, lambo teus dentes brancos. Câmeras registram o momento em que nos beijamos, ao carregar-me no colo para dentro de si, onde somos felizes para sempre. Meu homem, meu homem. Choro ao dizer esta frase marcada, cinética, cinematográfica. Em outro país já teria sido operada.

            A doença externa consumiu-me por dentro. Volto para o Carnaval. Colombina!, ria-me dessas máscaras. Nunca achei graça nas brincadeiras estúpidas de gente insensível. A Itália meu destino. Você iria para Amsterdam e eu ao Irã, viajássemos as emoções. Explodiria bomba-relógio em mim: atentado contra o meu pudor. Amava esse pequeno-deus em ti, queria dar-lhe o seio suculento. Voava contra o tempo da existência desse eterno des-encontro. Retalhei o sexo para acelerar o processo. Fui salva por milagre! Podia estar morta! Desligaste o telefone sete vezes na minha cara, chapado, do outro lado do mundo. Também estou bêbada dessa vida embriagante. Feminina, menina, Nina. Apenas um nome. Quem dera fosse algo quando tivesse um nome: Substantiva da Silva. Meu Inverno foi infernal. Queimei-me inteira, mas agora estou pronta: Amo meu Amor.


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